A tragédia na BR-135 que ceifou sete vidas no início de janeiro de 2025 não foi apenas um acidente — foi o desfecho previsível de uma sucessão de negligências.
A Polícia Civil do Piauí concluiu o inquérito que investigava o tombamento de um ônibus clandestino entre Corrente e São Gonçalo do Gurgueia e indiciou três pessoas por homicídio doloso e exercício ilegal da atividade de transporte interestadual.
Foram responsabilizados o motorista do veículo, L.C.M., e os empresários J.S.N. e C.H.M.N., donos da empresa irregular que operava clandestinamente o trajeto entre Tianguá (CE) e São Paulo, com passageiros vendidos como em linha regular — mesmo sem autorização da ANTT.
delegado Diogo Noronha apontou que o ônibus trafegava a 110 km/h em uma estrada molhada, ondulada e perigosa, durante a noite, o que agravou o risco de acidente. Câmeras internas mostraram que o motorista apresentava sinais evidentes de fadiga, sonolência e perda de reflexos.
Pneus carecas e veículo mal conservado:
Laudos mecânicos detectaram pneus gastos, desalinhamento e problemas de aderência ao solo — mais um fator que ajudou a empurrar o veículo para fora da pista e para dentro da tragédia.
Mortes evitáveis:
Das sete vítimas fatais, seis estavam sem cinto de segurança e foram arremessadas para fora do ônibus, morrendo esmagadas pelo peso do próprio veículo. O delegado confirmou que os cintos funcionavam, mas não houve fiscalização ou orientação clara sobre seu uso por parte da empresa.
Motorista dormia no bagageiro:
Um dos momentos mais chocantes do relatório: o motorista reserva, Kaique Glauber Lúcio de Farias, de 30 anos, morreu dormindo dentro do bagageiro — um espaço proibido por lei. A empresa, visando economizar espaço e aumentar o lucro, não forneceu um local adequado de descanso.
Empresa fantasma da estrada:
A empresa operava de forma clandestina, sem autorização para transporte interestadual, o que configura exercício ilegal da atividade, além de evidenciar a fragilidade na fiscalização de rodovias federais.
Feridos sem denúncia:
Embora 19 pessoas tenham ficado feridas, nenhuma quis representar criminalmente contra os responsáveis, o que impediu acusações formais por lesão corporal.
As vítimas fatais eram todas do Ceará e retornavam de visitas ao estado natal após o fim do ano:
Kaique Glauber Lúcio de Farias, 30 anos (motorista reserva)
Antonio Jackes Pereira de Vasconcelos, 27
Emanuel da Cruz Silva Belicaro, 28
Miguel Oliveira de Freitas, 63
Graceli Barroso Rufino de Freitas, 58
Antonia de Maria Castro, 63
Alexandre Barros Teófilo, 25
O inquérito agora segue para o Ministério Público, que decidirá se oferecerá denúncia contra os indiciados. O caso reacende um alerta urgente sobre o perigo do transporte clandestino nas estradas brasileiras.